Antigo Forte de Salazar: As portas que abril abriu...

26-04-2018

A porta que no 25 de abril se abriu no Forte de Santo António da Barra não deixou ninguém indiferente. Deixou "orgulhosos os cascalenses" pelo trabalho "fantástico na sua recuperação", num curto espaço de tempo, disse o presidente da Câmara, Carlos Carreiras, e deixou satisfeito o secretário de Estado da Defesa (veja o vídeo).

"Quando entramos neste edifício ficamos com a sensação de termos tomado as decisões adequadas", disse Marcos Perestrello. E, surpreendeu todos os outros que ali se deslocaram para comemorar o 25 de abril.

A porta do Forte ainda não se abrira e já eram muitos os populares que mostravam admiração pelo estado de conservação em que se apresentava toda a zona verde envolvente. Mas a atenção estava reservada para o interior. Os comentários manifestavam essa expectativa. Cruzavam-se conversas e as imagens de degradação passadas nos telejornais um mês e meio antes eram tema incontornável nesta espera pela hora da abertura do Forte. E ela lá chegou. De chave em punho, presidente da Câmara de Cascais e secretário de Estado da Defesa abriram a velha porta do Forte e a população não se fez rogada. Entrou sem rodeios, entrou e percorreu cada canto. Sorrisos, trejeitos de espanto e, sobretudo muita curiosidade.

A história do Forte, a mais longínqua e a mais recente exposta numa sala, puxava à curiosidade, mas não satisfazia toda a curiosidade. As pessoas traziam na memória o caótico estado do edifício, procuravam resquícios desse verdadeiro estado de fragilidade da fortaleza e percebia-se o grau de satisfação pela surpresa. O filme que passava ininterruptamente numa das salas e que confrontava o estado de degradação com o estado de recuperação prendia mais a atenção dos visitantes, bem como as fotos que contavam a história deste resgate. E então, era de história que se falava quando a população presente se cruzava nos corredores do forte, nos recantos das salas. A curiosidade inicial ia perdendo força e começara outra.

Talvez a história mais recente da utilização deste edifício, o local de férias do ditador Oliveira Salazar, presidente do Conselho do Estado Novo, ainda estivesse colada às paredes do velho edifício. Sobretudo neste dia 25 de abril que festejava exatamente o fim desse ciclo da história. Encostado a uma das paredes do forte, protegido pela muralha virada para o mar e contemplando o monumento, um dos visitantes, de seu nome Rui Oliveira, dizia-nos: "Sabe! A democracia tem que exorcizar o seu passado e tem que recuperar aquilo que de bom e aquilo que de mau foi feito. Houve muita gente que tombou dentro e fora do regime e a democracia tem de recuperá-los a todos. Nós não devemos ter ressentimentos do nosso passado, devemos ter saudades do nosso futuro."

A cerimónia prosseguia na praça do Forte virada para o mar. O presidente da Câmara de Cascais, primeiro, falava aos presentes manifestando "felicidade por ter sido possível à Câmara Municipal de Cascais dar a conhecer esta joia que estava aqui escondida, que estava a ser vandalizada", e "orgulho, por em tão curto espaço de tempo dar outra vez o esplendor ao Forte de Santo António da Barra, com a participação de muito colegas da Câmara Municipal de Cascais". O autarca acrescentaria que, porque "em democracia não podemos privar os cidadãos e a comunidade da sua história e do seu património, estamos prontos para tomar conta de todo o património que existe no nosso concelho".

Logo de seguida, o secretário de Estado da Defesa pareceu estar de acordo: "Quando entramos neste edifício ficamos com a sensação de termos tomado as decisões adequadas, porque a preservação do património do Estado requer necessariamente o envolvimento das autarquias", disse Marcos Perestrello.

Seguiam-se as velhas canções de abril cantadas pelos populares acompanhando os coros das associações do concelho, mas a surpresa tinha sido forte, nestes 44 anos do 25 de abril em Cascais.

Texto e Vídeo: Câmara Municipal de Cascais