Associação Zero aplaude, ACAP contesta palavras de ministro sobre desvalorização de carros 'diesel'

28-01-2019

A associação ambientalista Zero manifestou-se "de acordo com a questão levantada pelo ministro do Ambiente", relativamente à desvalorização dos carros a 'diesel', e disse que têm perspetivas em "completa consonância" relativamente ao futuro próximo.

"Neste caso, estamos de acordo com a questão levantada pelo ministro", afirmou em declarações à Lusa Francisco Ferreira, presidente da associação ambientalista Zero.

"A perspetiva que o ministro do Ambiente dá está em completa consonância com a perspetiva que temos em relação à evolução da tecnologia automóvel no futuro próximo", acrescentou o responsável.

Em entrevista publicada na edição de hoje do Jornal de Negócios, João Pedro Matos Fernandes afirmou ser "muito evidente que quem comprar um carro a 'diesel' muito provavelmente daqui a quatro ou cinco anos não vai ter grande valor na sua troca".

"Os estudos apontam no sentido de que é mais económico para as empresas adquirirem e utilizarem veículos elétricos e que em três anos os benefícios à compra de elétricos não serão necessários porque estes veículos terão maior autonomia e serão mais baratos do que os veículos a gasolina e a gasóleo", afirmou o presidente da Zero.

O responsável alertou para que "a frota de veículos a gasóleo é das que tem maior peso, nomeadamente entre as pessoas que andam muito de carro", devido à grande diferença que existia, no momento da compra, entre o preço do gasóleo (muito mais baixo) e o da gasolina.

"Existe um problema muito grande associado às emissões de óxido de azoto e é realmente devido ao tráfego automóvel intenso e ao facto de a grande percentagem ser de automóveis a gasóleo que não estamos a conseguir cumprir requisitos de qualidade do ar em vários locais dos centros urbanos. O gasóleo é o principal culpado", argumentou Francisco Ferreira.

O responsável acrescentou que o que acontece em Portugal já está a acontecer noutros países.

"Muitas cidades europeias ponderam banir os veículos a gasóleo ou estabelecer zonas com zero emissões e também há perspetiva de se vir a banir os motores a combustão nas próximas décadas", referiu.

ACAP lamenta palavras do ministro do Ambiente

A Associação Automóvel de Portugal (ACAP) lamentou esta segunda-feira que o ministro do Ambiente "não tenha ponderado o impacto" no setor automóvel ao referir a falta de valor de troca dos carros com motor a gasóleo dentro de quatro anos.

Associação Automóvel lamenta palavras do ministro do Ambiente sobre desvalorização dos carros a 'diesel'

EPA/SEBASTIEN NOGIER

Em entrevista publicada na edição de hoje do Jornal de Negócios, João Pedro Matos Fernandes afirmou ser "muito evidente que quem comprar um carro 'diesel' muito provavelmente daqui a quatro ou cinco anos não vai ter grande valor na sua troca".

Em comunicado, a ACAP lamentou que o "sr. ministro não tenha ponderado o impacto das suas palavras na atividade das empresas do setor automóvel", até porque esta indústria é a "principal exportadora em Portugal" e o setor é o "principal contribuinte líquido do Estado, ao ser responsável por mais de 25% do total das receitas fiscais".

Para a ACAP, o governante pode ter expressado um desejo, mas as suas palavras "não têm qualquer correspondência com a realidade", por, nomeadamente, não estar prevista qualquer alteração legislativa a nível europeu, que implique uma desvalorização dos veículos a diesel nos próximos anos.

"Portugal está integrado na União Europeia e não existe qualquer regulamentação que aponte no sentido das declarações do sr. ministro", argumentou a associação, que recordou a recente implementação das novas regras de homologação de emissões de gases poluentes.

A indústria automóvel "está, fortemente, empenhada na redução de emissões dos veículos. A prova deste compromisso é que 40% dos novos modelos anunciados para 2021 já terão a opção da motorização elétrica. Todavia, esta transição irá ser feita de forma gradual", garantiu a ACAP, que enumerou ainda o pequeno peso das vendas de elétricos no mercado nacional (1,8%), apesar de um crescimento de 148% nas transações.

A associação não deixou de reafirmar a necessidade de um programa de incentivo ao abate de veículos dado a idade média de 12,6 anos do parque automóvel e os 700 mil veículos com mais de 20 anos a circularem.