Expo’98 funcionou como modelo para a requalificação de 'mais de 30 cidades' portuguesas

25-11-2019

A Exposição Internacional de Lisboa de 1998 (Expo'98) influenciou as intervenções urbanísticas realizadas nas duas últimas décadas em Portugal, inclusive através do programa Polis, segundo um projeto de investigação divulgado pelo ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa.

"A Expo'98 foi vista como um laboratório de estratégias urbanísticas e arquitetónicas que, ao longo dos vinte anos seguintes, foram reproduzidas em transformações profundas que se verificaram de Bragança a Albufeira e, com particular intensidade, na Área Metropolitana de Lisboa (AML)", afirmou Paulo Tormenta Pinto, professor de arquitetura no ISCTE e coordenador do projeto de investigação "Grandes Trabalhos - Operações Arquitetónicas e Urbanísticas depois da Exposição Universal de Lisboa de 1998″.

Além do impacto na AML, a Expo'98 funcionou como modelo para a requalificação urbana e ambiental de "mais de 30 cidades de norte a sul de Portugal", através do Polis - Programa de Requalificação Urbana e Valorização Ambiental das Cidades, criado pelo Governo em 2000.

"A Expo corresponde ao regresso da importância do desenho urbano: trata-se de um planeamento desenhado, na Expo tudo é desenhado", indicou o professor do ISCTE, destacando a forma como "este ímpeto transformador, que conjuga vários investimentos, caiu bem à sociedade portuguesa" nos anos 90 e nas duas primeiras décadas do século XXI.

Os resultados preliminares deste projeto de investigação apontam para uma difusão da importância do espaço público como elemento estruturador e qualificador das cidades, que "parece ter sido motor de muitas transformações, associado a uma ideia de 'qualidade de vida', que até então não tinha sido prioritária na administração local e central".

Em Lisboa, o projeto urbano da Expo'98 promoveu a reconversão de uma zona industrial numa nova área da cidade, através de "uma transformação das frentes de água, num processo contínuo até hoje".

Neste âmbito, o modelo implementado nos quatro quilómetros da zona do Parque das Nações foi usado como exemplo para os 20 quilómetros em contacto com o rio Tejo, através da transformação das zonas portuárias em espaços com maior diversidade de usos, eliminando progressivamente a "barreira entre o rio e a cidade".

Esta mudança na capital "é mais rápida e intensa depois de 2008, data do Plano Geral de Intervenções da Frente de Rio de Lisboa", em que foi estabelecido um acordo entre a autarquia e o Porto de Lisboa para a gestão da frente de rio da cidade, libertando várias áreas para usos mistos e usufruto público.

"É uma mutação que conjuga intervenções como a do Cais do Sodré, a do Campo das Cebolas ou a de Santa Apolónia com edifícios notáveis, como o novo terminal de cruzeiros", avançou Paulo Tormenta Pinto, ressalvando que ao longo da frente ribeirinha da região de Lisboa há muitos terrenos em que ainda não é claro qual será o seu destino, pelo que "são lugares em espera".

Na valorização do espaço público, a reconversão das cidades portuguesas iniciada a partir de 1998 através do modelo da Expo apostou em infraestruturas de uso comum, na pedonalização de áreas centrais, no incentivo ao uso das bicicletas e em alguns casos soluções inovadoras de mobilidade.

De acordo com o coordenador deste projeto de investigação, as transformações do espaço público têm por base o "combate à desumanização das cidades e a um quotidiano dominado pelo automóvel".

"Verifica-se uma grande preocupação em definir espaços de encontro e de socialização com circulação pedonal. Tenta-se uma reposição de padrões urbanos que tinham sido perdidos pela cidade moderna, como o da circulação das pessoas em espaços comuns que propiciam o encontro, a conversa e a convivência", explicou Paulo Tormenta Pinto.

Os resultados deste projeto de investigação vão ser o mote para a conferência "Transformações e Lugares em Espera - As frentes de água na Área Metropolitana de Lisboa", que se realiza na próxima quinta-feira, a partir das 14:30, no Teatro Thalia, em Lisboa.