Carcavelos cumpre a tradição, o primeiro banho do ano é aqui!
Centenas de banhistas e populares juntaram-se hoje na praia de Carcavelos, concelho de Cascais, numa atmosfera de alegria e convívio, tendo sido lançados foguetes e com os mais entusiastas e audazes a tomaram o primeiro banho do Ano Novo.
"Faz hoje 77 anos" que vai tomar o primeiro banho do Ano Novo à praia de Carcavelos, disse à agência Lusa Narciso António dos Santos, de 95 anos, e um dos oito fundadores do grupo "Narciso", lembrando que os outros sete "já foram à vida [morreram]".
Molhado, com a alegria estampada no rosto, o banhista de fibra, alto e ainda bem constituído, contou que esta tradição se iniciou em 1942.
Nessa altura, souberam que dois homens se atiraram para o rio Tamisa. "Se eles se atiraram à meia noite nos também podemos vir para aqui à meia noite!", relatou.
Assim, "em 1943, 1944 e 1945 viemos para aqui à meia noite. Depois acabou a II Grande Guerra Mundial e o exército trazia para aqui holofotes daqueles muito grandes. Eram a carvão e aquilo era muito caro. Pelo que disseram: Acabou a guerra e vocês a tomar banho às escuras é tentativa de suicídio e vão presos!", recordou hoje o banhista à Lusa.
"Foi aí que passámos a fazer ao meio dia", disse enquanto se enxugava, lembrando que foi nessa altura que criaram o grupo "Narciso", em que é o único ainda vivo.
Para 2020 desejou "bom ano, muita Paz e muita alegria e muita amizade, muita amizade!".
Cláudia Araújo, que vem há 25 anos "ao banho do ano", disse à Lusa que o convívio é "espetacular, cinco estrelas. É muito bom, é muito bom, é demais!", adiantando que depois do banho há "os comes e bebes para aquecer o coração".
Interrompida pelo rebentar de foguetes, a banhista Aida garantiu à Lusa que já cumpre este ritual "desde o tempo de Fernando Peça [jornalista da RTP]".
"O banho foi bom para não nos constiparmos o ano inteiro", disse Aida, acrescentando que no caso da sua sobrinha Inês, mascarada de coelho cor de rosa lhe fazia "bem para a gripe e para os ossos".
"A água está boa, está mais frio aqui na areia que lá dentro!", exclamou.
No areal, um grupo de acordeonistas tocava música tradicional e algumas dos banhistas dançavam espraiando alegria e boa disposição. Outro popular, vestido de "saloio", estava sentado e com uma garrafa na mão. Comia e sorria para quem o olhava e lhe desejava "bom ano".
Um dos elementos do grupo de banhistas "Os Outros", vestidos com fatos de banho às riscas disse que "nem há frio! E depois de estar lá dentro podemos dar todos os mergulhos porque não há frio!".
Rindo, disse à Lusa: "há o grupo A, o B, o C e nós somos 'Os Outros", desejando para o ano que entra felicidade e saúde, os pedidos mais escutados.