Cascais abre ao público as Grutas do Poço Velho

19-05-2022

Um dos mais simbólicos mitos urbanos de Cascais. A histórica necrópole do centro da vila, alvo de curiosidade há largas décadas e durante tanto tempo fechada ao público, vai abrir finalmente para visitas regulares aos fins de semana e feriados. 

Não haverá cascalense que não conheça, passe por, ou já tenha estado, na entrada das grutas. O monumento fica na margem direita da Ribeira das Vinhas, a cerca de 500 metros da sua foz, na Praia da Ribeira, em plena vila de Cascais. "E não, as grutas do Poço Velho não vão ter ao Guincho, nem à Boca do Inferno como creêm os cascalenses mais velhos, agora todos podem comprovar isso ao vivo", referiu Severino Rodrigues, arqueólogo e responsável pela Divisão de Arqueologia e Património Histórico da Câmara Municipal de Cascais.

As obras de requalificação que permitiram reabrir as grutas ao público

Com as obras que agora terminam, abre-se um capítulo novo na política cultural e patrimonial local, devolvendo a Cascais e aos Cascalenses aquele que é porventura o mais significante e impactante monumento arqueológico da nossa terra.

Nas duas antecâmaras foram promovidas obras de remodelação do espaço e recolocadas novas portas, que garantem a circulação de ar no interior das grutas, condição fundamental para o não desenvolvimento de fungos e líquenes no seu interior.

A entrada foi requalificada com a criação de duas pequenas salas, uma para arrumos e instalação do quadro elétrico e outra, do lado oposto, onde ficará a receção ao visitante e são guardados os capacetes, de uso obrigatório durante a circulação no interior das grutas.

Nas paredes da antecâmara de entrada foram aplicados painéis onde consta uma breve descrição da formação geológica, do decurso das investigações arqueológicas e do espólio que lhes está associado, que é complementada com a exibição de um pequeno filme sobre as grutas, apresentado num ecrã de grandes dimensões.

No interior da gruta foi criado um circuito para a circulação, com um passadiço construído em plástico, assinalado por uma suave iluminação lateral e limitado por barreiras físicas que não permitem o avanço para áreas não visitáveis. Em toda a gruta foi montado um circuito de iluminação LED, com a instalação de projetores, sempre que possível dissimulados, que potenciam a observação de toda a envolvente. Em situações pontuais procurou-se reproduzir a iluminação bruxuleante de archotes que procuram simular um cenário, mais sensorial, que nos remete para tempos pré-históricos.

Na antecâmara de saída, para além da pintura e limpeza do revestimento de pedra das paredes foram reparados e aumentados os degraus de acesso ao exterior. Esta foi a razão que obrigou à execução de uma nova cobertura metálica sobre toda a antecâmara.

No exterior, no canteiro que se encontra entre as duas antecâmaras, foi também instalada iluminação que durante a noite potencia a imagem do maciço rochoso de calcário no qual se encontra inclusa a gruta.

Aqui nasceu a identidade de Cascais

Em 1879, o geólogo Carlos Ribeiro (considerado o "fundador" da arqueologia cascalense) explorou pela primeira vez estas grutas, tendo detetado nos sedimentos que preenchiam o seu interior vestígios arqueológicos que vão desde o Paleolítico até à Antiguidade Tardia.

No entanto, a principal ocupação terá sido de época neolítica e calcolítica (4º e 3º milénios a. C.) e corresponde à utilização da gruta como necrópole, tendo sido identificados mais de uma centena de enterramentos.

Entre 1945 e 1947, o engenheiro Abreu Nunes promoveu novas intervenções neste sítio arqueológico, então sob a gestão da Junta de Turismo de Cascais. Os trabalhos de escavação permitiram recolher um diversificado conjunto de espólio funerário, que incluiu artefactos de pedra polida e lascada, artefactos votivos de calcário, placas de xisto decoradas, elementos de adorno e cerâmica. Algum do espólio recolhido neste sítio arqueológico encontra-se em exposição no Museu da Vila de Cascais.

As primeiras expressões religiosas, visíveis nos rituais funerários que nos permitem perceber a grande ligação que Cascais sempre teve ao mar e à exploração dos seus recursos naturais, estabelecem uma relação direta entre as primeiras comunidades humanas estabelecidas neste espaço e a definição de uma estrutura organizacional comunitária que virá a transformar-se muitos milénios depois no Cascais onde nascemos e vivemos atualmente.

Tendo sido ali que nasceu Cascais, o projeto de recuperação deste monumento e a criação de um circuito de visitação que permitirá a todos os Cascalenses a visita e o conhecimento deste espaço, é simultaneamente um contributo de primeira importância para o reforço da atratividade da região enquanto destino turístico de excelência no contexto mundial, ao mesmo tempo que em termos pedagógicos potencia a possibilidade de a comunidade educativa de Cascais passar a deter uma ferramenta de interesse extraordinário para que as novas gerações possam conhecer e partilhar a memória comunitária municipal.

Horário de funcionamento: De 17 de maio a 30 de setembro. Sábados, domingos e feriados das 14h00 às 18h00.

Informações e inscrições: 214 825 190 | museudavila@cm-cascais.pt | mdv@cm-cascais.pt

Texto e vídeo: CMC