Até a respirar se engorda? Estudo diz que substâncias presentes no ar das escolas podem potenciar asma e obesidade
Um estudo do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) concluiu que a presença, no ar das salas de aula, de substâncias que provocam alterações hormonais, pode originar o desenvolvimento de asma e obesidade nas crianças.
A investigadora Inês Paciência explica que o estudo, iniciado em janeiro de 2016, teve como objetivo "analisar o efeito dos disruptores endócrinos"(substâncias que provocam alterações hormonais no organismo e que estão presentes em alguns produtos de limpeza, mobiliário e construção de edifícios) em crianças entre os 07 e 12 anos.
O estudo, denominado 'Exposure to indoor endocrine disrupting chemicals and childhood asthmas and obesity', e publicado recentemente na revista 'Allergy', analisou a qualidade do ar interior de 71 salas de aula de 20 escolas primárias do Porto e a prevalência de sintomas relacionados com asma e obesidade em 845 crianças.
"A prevalência de asma nestes alunos variou entre os 6,5% e os 12%. Quanto à obesidade, medimos e pesamos as crianças com base nos critérios do Center for Disease Control and Prevention (CDC), da Organização Mundial de Saúde (OMS) e da International Obesity Task Force (IOTF), e variou entre os 7,5% e os 16%", afirmou.
Por sua vez, a análise das salas de aula, que decorreu durante o período de inverno, identificou como disruptores endócrinos "13 compostos orgânicos voláteis e dois aldeídos"(molécula com apenas um carbono).
"Esta medição foi feita durante uma semana no período de inverno, considerada a pior altura, uma vez que não há ventilação, as janelas estão fechadas e a concentração no ar interior destes compostos é superior ao encontrado no exterior", esclareceu.
Segundo a responsável, uma vez que os resultados obtidos sugerem a existência de "uma associação" entre a exposição a estas substâncias químicas e o risco de desenvolvimento de asma, obesidade e presença de sintomas respiratórios nas crianças, é necessário "estabelecer um plano de ação" nas escolas.
"Esse plano de ação passa pela melhoria da qualidade do ar interior, ou seja, os responsáveis pelas escolas primárias, neste caso, os municípios, devem evitar a utilização de pavimento ou tintas que emitem estes compostos na construção ou quando colocam mobiliário, passando por estabelecer ações comuns a todas as escolas que minimizem o efeito da exposição a estes compostos", apontou.
Já quanto às escolas que não tenham restruturações ou remodelações, a investigadora acredita que o plano passa por "abrir as portas e janelas" de modo a aumentar a ventilação e diminuir a concentração de disruptores endócrinos.
À Lusa, Inês Paciência adiantou que a equipa do ISPUP pretende continuar com a investigação para perceber "qual o impacto da combinação cumulativa" e da "ingestão que é referenciada como uma importante fonte de disruptores endócrinos", ao estar associada ao plástico usado em garrafas de água e outros materiais de cozinha.
"O ideal seria fazer uma avaliação longitudinal, desde o período da preconceção até à idade adulta, para perceber qual a janela de exposição que mais contribui para este risco que nós encontramos. Tentar perceber em que a ação política poderia contribuir para uma diminuição da exposição a estes compostos e, consequentemente, aumentar a saúde e a qualidade de vida da pessoa", acrescentou.