Sintra acolhe concerto de homenagem à pianista Olga Prats em novembro

20-10-2021

A pianista Olga Prats, que morreu no passado dia 30 de julho, vai ser homenageada, em Sintra, num concerto, em novembro, por colegas e amigos, revelou fonte da organização.

O concerto, que conta, entre outros, com a participação do contrabaixista Alejandro Erlich-Oliva, com quem a pianista tocou e fundou o Opus Ensemble, em 1980, realiza-se no dia 03 de novembro, às 21:00, véspera do aniversário de Olga Prats, no Centro Cultural Olga Cadaval, em Sintra.

Trata-se de uma iniciativa do musicólogo Bernardo Mariano, que contou com o apoio da filha da pianista, Paula Prats Azevedo Gomes, e do compositor Sérgio Azevedo, autor da obra "Olga Prats. Um Piano Singular" (2007).

Em declarações à agência Lusa, questionado sobre a ideia da homenagem, Bernardo Mariano disse: "Pareceu-me que a Olga mereceria uma homenagem assim, uma despedida bonita, digna, respeitosa, mas celebrativa, feita com pessoas juntas a fazer música, que era o que ela mais gostava de fazer".

"A ideia foi minha e surgiu pouco depois de ter sabido do falecimento da Olga. Logo aí a ideia era fazê-lo coincidir com a data do seu aniversário [04 de novembro]. E logo daí também a ideia de um concerto intergeracional e com cruzamentos disciplinares, espelhando o ecletismo da carreira da Olga, com o foco no piano e na música de câmara, que foram os domínios em que mais se notabilizou. O concerto será semi-encenado e com componente vídeo, segundo conceção cénica minha", acrescentou Bernardo Mariano.

Além de Alejandro Erlich-Oliva, no concerto participam os músicos, compositores e artistas Diana Botelho Vieira, Sérgio Azevedo, Luís Madureira, Quarteto Lopes-Graça, António Victorino d'Almeida, Maria do Céu Guerra, Sara Vaz, Jorge Palma, António Saiote, Artur Pizarro, Irene Lima, João Paulo Santos, e uma bailarina a designar.

"Todos eles pessoas que tiveram uma relação bastante ou muito próxima, profissional e pessoal, com a Olga, uns durante muito tempo, outros mais recentes", justificou Bernardo Mariano, que também colaborou com a pianista, no projeto discográfico sobre Joly Braga Santos. "Contei com preciosas informações e memórias dela, que depois incluí nos textos de apoio aos CD", dosse à Lusa.

"Os participantes vão graciosamente. A receita da sala é 80% é para os promotores, 20% para a sala, segundo proposta do Olga Cadaval, e reverterá, se tudo correr bem, para a instituição do Prémio Olga Prats de Música de Câmara, associado ao Prémio Jovens Músicos, e que irá premiar, a cada ano, com início já em 2022, o agrupamento vencedor da categoria de 'Música de Câmara - Nível Médio'", disse o musicólogo.

"Associa-se assim, e perpetua-se, o nome da Olga Prats ao domínio por excelência da sua ação artística - a música de câmara - e no principal concurso de jovens talentos musicais do país. E incentiva-se deste modo a que novos grupos de música de câmara surjam no panorama musical português, o que foi sempre o maior desejo dela e o esforço ao longo de tantos anos", acrescentou Mariano.

Para Bernardo Mariano a morte de Olga Prats, aos 82 anos, "passou bastante despercebida mediaticamente. Tendo em conta aquilo que foi publicado e passou na televisão - e foi pouco -, não cobre nem de longe o alcance da vida, da obra e da ação da Olga. Não foi por isso que decidi organizar este concerto, mas a sedimentação dessa impressão nos dias que se seguiram como que 'justificou' acrescidamente o acerto da minha decisão de levar avante esta iniciativa", explicou à Lusa.

O musicólogo lembrou que "Olga Prats foi uma das personalidades centrais da vida musical portuguesa ao longo de cerca de 50 anos". "Só lhe temos a agradecer o facto de se ter devotado à música portuguesa - e à música do seu tempo - estabelecendo relações artísticas que se transformaram em relações pessoais duradouras com personalidades tão relevantes como Fernando Lopes-Graça, António Victorino d'Almeida ou Constança Capdeville, entre tantos outros, executando, promovendo e gravando a sua música, e estabelecendo parâmetros interpretativos que ainda hoje são referência. Ela foi absolutamente pioneira na dedicação que sempre demonstrou para com a música de câmara, domínio ao longo de tantos anos menosprezado em Portugal, de que o exemplo maior [dessa dedicação] é o Opus Ensemble".

"Enquanto docente e enquanto 'mestra', ela sempre também pugnou para que houvesse uma sólida formação em música de câmara nas escolas de música. A Olga Prats devemos a inclusão dessa disciplina nos currículos universitários, integrando os cursos das Escolas Superiores de Música e cursos de Música em Universidades. Mas, sobretudo, devemos recordar a mente aberta e as 'vistas largas' de Olga Prats, que a levaram a encetar colaborações com músicos de outros géneros e com outras artes, granjeando a admiração e fazendo amizades em comunidades onde ainda é raro músicos clássicos entrarem. No fundo, era a mesma vontade, o mesmo gosto de comunicação, sempre em prol da Arte, que eram o fundamento do seu amor em reunir-se com colegas músicos para fazerem música juntos", sublibhou.

A pianista Olga Prats morreu no passado doa 30 de julho, aos 82 anos, na sua residência na Parede, concelho de Cascais, vítima de doença oncológica.