Depressão Martinho arrasou perto de cem mil árvores na Serra de Sintra

04-04-2025

Na sequência da passagem da depressão Martinho, que ocorreu na noite de 19 para 20 de março, a Parques de Sintra procedeu ao levantamento detalhado dos danos causados por este fenómeno climático extremo, considerado inédito na Serra de Sintra, devido à combinação excecional de diversos fatores meteorológicos, e já arrancou com o projeto de recuperação das áreas florestais que sofreram estragos.

Nas semanas anteriores à depressão Martinho, que trouxe chuva intensa e ventos extremamente fortes, com rajadas que chegaram aos 169 km/h no Cabo da Roca, a Serra de Sintra registou elevados níveis de precipitação, originando a saturação dos solos. A invulgar direção dos ventos, oriundos predominantemente de sul, combinada com os elevados níveis de precipitação durante os meses de fevereiro e março, solos com elevados níveis de saturação de água e árvores com raízes pouco profundas, contribuiu decisivamente para a magnitude dos estragos: a queda de cerca de 98 mil árvores de diversas espécies, afetando 280 hectares do total dos cerca de mil hectares sob gestão da Parques de Sintra. Adicionalmente, a própria morfologia dos vales da Serra de Sintra intensificou os efeitos devastadores destes ventos excecionalmente fortes.

A Parques de Sintra implementou medidas preventivas nos dias que antecederam o evento e iniciou, imediatamente após o fenómeno climático, ações intensivas de recuperação. Entre as ações estão a limpeza urgente das árvores caídas, a estabilização de muros, taludes e estradas que ficaram seriamente comprometidos, bem como uma avaliação rigorosa dos riscos e dos danos sofridos.

O mapeamento detalhado, realizado através de drones e inspeções no terreno, identificou cerca de 200 hectares de floresta severamente atingidos, dos quais 89 hectares registam danos muito graves, totalizando cerca de 93 mil árvores derrubadas.

Nas Matas e Tapadas, especialmente as de Monserrate e de D. Fernando II, registou-se a queda adicional de mais cinco mil árvores em 80 hectares.

Neste momento, dois lotes que correspondem a uma área de 89 hectares estão classificados como prioritários, estando já a ser alvo de intervenções urgentes. Até ao início do período crítico de incêndios, dentro de três meses, decorrerão operações intensivas de remoção das árvores derrubadas e recuperação das condições de segurança nestes dois lotes. Este processo, que exigiu um investimento inicial imediato de 300 mil euros, terá de ser interrompido durante o período crítico por imposição legal, sendo retomado em setembro e concluído até ao final do ano.

Adicionalmente, foram identificados oito lotes, correspondendo a 113 hectares com diferentes níveis de prioridade. Esta intervenção implicará um investimento estimado em 1,2 milhões de euros, começará no segundo semestre deste ano, e deverá prolongar-se durante os próximos dois anos.

Paralelamente, a Parques de Sintra está já a desenvolver um plano detalhado que visa mitigar os efeitos erosivos provocados por este fenómeno e promover a rearborização das áreas afetadas.

Este plano prioriza a plantação de espécies autóctones, estratégias para manter a estabilização do solo, recuperação da cobertura vegetal, manutenção do equilíbrio hídrico e restabelecimento dos habitats naturais, assegurando, assim, maior sustentabilidade e resiliência da floresta face a futuros eventos extremos.

A Parques de Sintra procedeu igualmente à avaliação do risco e necessidades de investimento no património construído, provocados pela depressão Martinho, nomeadamente em muros, taludes e edifícios, tendo identificado 12 intervenções urgentes, algumas delas já a decorrer, que implicam um investimento de cerca de 1,5 milhões de euros.

Texto e foto: Parques de Sintra