Galerias romanas de Lisboa abrem ao público mas só neste fim de semana

29-03-2019

Cerca de dois mil anos de história podem ser visitados entre sexta-feira e domingo com a abertura ao público das Galerias Romanas, na Baixa de Lisboa, que têm, pela primeira vez, visitas guiadas em língua gestual portuguesa.

A grande novidade este ano é o facto de as Galerias Romanas estarem "mais acessíveis" com a realização de visitas em língua gestual portuguesa para públicos surdos ou com deficiência auditiva, disse à Lusa Joana Sousa Monteiro, diretora do Museu de Lisboa.

"Vamos ter, em três momentos da visita, tradução para a língua gestual portuguesa permitindo a quem tem deficiência auditiva que entenda a interpretação histórica que se faz do monumento", explicou, acrescentando que, na sexta-feira, entre as 10:00 e as 17:00, as Galerias vão receber 600 crianças já que as "escolas há muito solicitavam" esse pedido.

Joana Monteiro avançou que as visitas só voltam a acontecer em setembro, depois de as inscrições para as que vão decorrer entre sexta-feira e domingo terem ficado esgotadas em "quatro/cinco horas", já que "são sempre muitos os interessados".

Desde sábado passado que os bombeiros estão a bombear a água existente no local de forma a tornar possível a descida e a visita porque, habitualmente, as Galerias têm cerca de 1.10 metros de água limpa que vem dos lençóis freáticos.

Só depois é feita a instalação elétrica para que seja possível observar toda a estrutura", explicou Lídia Fernandes, coordenadora do Museu de Lisboa -- Teatro Romano.

"Desde que foi descoberto, em 1771, tem um comportamento muito estável debaixo de água e com um nível de humidade altíssimo. Não convém secá-lo muitos dias seguidos porque pode haver consequências danosas para este património que tem duas vantagens e/ou importâncias vitais: uma é ser do Século I, temos às nossas costas dois mil anos de história, e outa é sustentar ainda hoje os edifícios pombalinos", disse Lídia Fernandes.

A responsável adiantou que toda a estrutura visitável é, "do ponto de vista da engenharia, absolutamente extraordinária", lembrando que "não foi abaixo com o terramoto", o que faz dela uma construção "altamente antissísmica de suporte a edifícios que estavam construídos em cima, que poderiam ter sido grandes e de uso público, com muito peso".

As galerias possuem "diferentes alturas", de acordo com Lídia Fernandes, criadas "para que houvesse uma boa distribuição das forças" pois o objetivo era "constituir uma plataforma horizontal que nivelasse o terreno na parte superior que permitisse a construção em cima das galerias".

Segundo a coordenadora do Museu de Lisboa -- Teatro Romano, as Galerias Romanas podem ter funcionado "como um cais de desembarque, uma vez que a linha de costa era mais para norte do que é hoje", além de puderem ter servido para "suporte de uma grande praça pública, fórum ou termas, ou mesmo templos".

"Há várias hipóteses, tudo depende do que se vai encontrando nas intervenções urbanas que vão sendo feitas pela cidade de Lisboa", afirmou, acrescentando também que também não é possível responder com exatidão à questão da área que toda a estrutura ocupa na cidade.

De acordo com Lídia Fernandes, aquilo que hoje se visita "é cerca de um terço daquilo que foi conhecido em levantamentos anteriores, nomeadamente em meados do século XIX, sendo que não se conhece a sua totalidade".

"Estende-se em quase todas as direções, não se sabe até onde vai, esse é o aspeto mais curioso", frisou, lembrando que "o que sabemos atualmente permite dizer que é uma plataforma artificial enorme que permitiu o desenvolvimento da cidade romana para este lado citadino".

"Foi um planeamento urbanístico feito nos inícios do Século I. Não pode ter sido uma obra feita por uma pessoa privada, ou duas ou três, foi uma obra mandada fazer pelo Imperador ou Governador de província", concluiu.

A responsável adiantou ainda estar a ser pensada a criação de um núcleo interpretativo que permita disponibilizar a informação que se conhece sobre as Galerias Romanas com visitas virtuais.