'Há muitos mitos sobre fertilidade que já vêm do tempo das nossas avós e não têm fundamento'
Se está a tentar engravidar, não acredite em tudo o que lê e ouve. Em vez disso, converse com um médico para acabar com ideias preconcebidas, mitos e falsas convicções que podem prejudicar os seus objetivos de maternidade. Em muitos casos, quando a espera começa a ser longa instalam-se níveis mais elevados de ansiedade e há uma compreensível tendência para acreditar em tudo, mesmo naquilo que não é verdade.
A Dra. Vânia Ribeiro é médica ginecologista e especialista em Medicina da Reprodução
"Há muitos mitos e muitas falsas convicções sobre fertilidade que já vêm do tempo das nossas avós e não têm fundamento. O Dr. Google pode não ser bom conselheiro. É junto do médico que a mulher ou o casal deve partilhar dúvidas e angústias", alerta a Dra. Vânia Ribeiro, médica ginecologista e especialista em Medicina da Reprodução.
Para ajudar a desmistificar questões em torno da fertilidade, a especialista do IVI Lisboa revela alguns mitos e verdades relacionados com a gravidez.
1. Engravidar é fácil. Mito! Nós humanos, não somos propriamente a espécie mais fértil do planeta. Em cada ciclo menstrual, as mulheres em idade fértil têm apenas 20% de hipóteses de conseguir engravidar. Esta é uma das razões pelas quais se recomenda esperar um ano antes de procurar um especialista em procriação medicamente assistida para avaliar um eventual caso de infertilidade. Se a mulher tiver uma idade igual ou superior a 35 anos, este período é reduzido para seis meses para que se possa despistar eventuais problemas de fertilidade na mulher ou no casal o mais precocemente possível.
2. Ter peso a mais prejudica a fertilidade. Verdade! O excesso de peso e/ou obesidade podem interferir com o sistema hormonal. Além disso, o risco de complicações obstétricas é três vezes maior em mulheres obesas e aumentam para o dobro a taxa de aborto. Se pretende engravidar recomenda-se estar dentro do peso ideal e ter um estilo de vida saudável.
3. A infertilidade atinge mais as mulheres que homens. Mito! A infertilidade pode afetar cerca de 10 a 15% dos casais e 30% dos casos estarão relacionados com causas femininas, outros 30% com causas masculinas, 20% com causas mistas e outros 20% inexplicados. Saiba que a infertilidade masculina já representa cerca de metade dos casos atendidos atualmente nas clínicas de procriação medicamente assistida.
4. Tenho um filho, por isso, não vou ter problemas em engravidar novamente. Mito! Já ouviu falar em infertilidade secundária? É a forma mais comum de infertilidade feminina e responsável por cerca de metade de todos os casos de infertilidade. Nas mulheres, a infertilidade secundária pode estar relacionada com a idade (fator crucial), endometriose, alterações hormonais; problemas vaginais ou uterinos. No homem, poderá estar ligada ao declínio da qualidade ou quantidade do sémen, aparecimento de patologias que afetam o aparelho reprodutor masculino ou alterações do trato genital.
5. A alimentação interfere com a fertilidade. Verdade! Se está a tentar engravidar, opte por alimentos naturais e faça uma dieta variada. Seguir os princípios da dieta mediterrânica, que se caracteriza pelo consumo de comida fresca e natural, como frutas, legumes e verduras, cereais, grãos, marisco e gorduras saudáveis, é uma excelente opção para melhorar a saúde reprodutiva e a saúde em geral. Por exemplo, peixes gordos como o salmão e a sardinha são ricos em ómega-3, o que contribui para a saúde hormonal e para a qualidade dos óvulos e sémen.
6. Devo deixar de fumar só após engravidar. Mito! Que o tabagismo traz inúmeros malefícios para a saúde não é novidade. Um dos efeitos nefastos é que o consumo de tabaco, tanto no homem como na mulher, está ligado a uma diminuição da fertilidade natural. Mas deixar de fumar apenas depois de engravidar não chega. O progenitor masculino que fuma durante o período pré-concecional pode contribuir para uma maior incidência de cancro na descendência, possivelmente pelas mutações no DNA espermático, que podem ser transmitidas ao feto de modo permanente, passando a fazer parte da composição genética da futura geração. O risco de infertilidade nas mulheres fumadoras em idade reprodutiva é de 60% e as que recorrem a tratamentos de procriação medicamente assistida diminuem a sua probabilidade de sucesso na gravidez em 50%.
7. A atividade física favorece a fertilidade. Verdade! A atividade física, que pode ser uma caminhada ou a prática de uma modalidade, produz benefícios cardiovasculares, metabólicos, endócrinos e neurológicos. Há estudos que demonstram que o exercício melhora a qualidade dos espermatozoides.
8. A pílula ou o DIU (dispositivo intrauterino) podem causar infertilidade. Mito! A pílula pode encobrir problemas hormonais, pois ela regula o ciclo menstrual. Quando a mulher suspende o seu uso para engravidar e não consegue pensa que o anticoncecional é o culpado. Em relação ao DIU, o que os estudos indicam é que há um risco, embora muito ligeiro, de desenvolvimento de doença inflamatória pélvica, o que, em casos graves, poderá levar à obstrução das trompas, e conduzir à infertilidade. Mas não havendo infeção pélvica, o DIU, por si só, não causa infertilidade.
9. Quem tem diagnóstico de cancro não pode ter filhos. Mito! Embora a radioterapia e a quimioterapia diminuam a fertilidade da mulher, não impedem totalmente a maternidade. No entanto, é fundamental acautelar o potencial reprodutivo, uma vez que as hipóteses de engravidar de forma natural ficam diminuídas. Por isso, tanto as mulheres como os homens devem vitrificar (congelar) óvulos ou sémen antes de iniciarem os tratamentos.
10. Infertilidade e impotência sexual são a mesma coisa. Mito!
É possível ter uma vida sexual ativa e satisfatória e, ao mesmo tempo,
ter problemas que impedem a gravidez. Ou, pelo contrário, haver
disfunções sexuais que não afetam a qualidade do esperma e sua
capacidade de fertilização.