Hélder Teixeira Aguiar vence Prémio Literário Revelação Agustina Bessa-Luís 2025

24-11-2025

Com o romance original "Na Tua Mão", Hélder Teixeira Aguiar sagrou-se vencedor da 18ª edição do Prémio Literário Revelação Agustina Bessa-Luís, por unanimidade do Júri, presidido por Guilherme d'Oliveira Martins. A obra será publicada através da Editorial Gradiva, agora em processo de fusão com a editora Guerra e Paz, no quadro de uma parceria com a Estoril Sol, desde 2008, ano do lançamento do concurso, em homenagem à grande escritora.

O júri escreveu em acta que a obra vencedora "é um romance de aventura, aprendizagem e superação de dois irmãos de 11 e 17 anos, de nacionalidade portuguesa, mas vivendo nas regiões conturbadas da Venezuela. Perseguidos por carteis da droga por causa da mãe jornalista "entretanto desaparecida", esses dois jovens vão tentar passar a fronteira para a Colômbia pela selva. No percurso, irão aprender o mundo e a força para superar dificuldades. Narrado alternadamente pelos dois irmãos, há neste romance uma frescura que cativa e uma qualidade de linguagem e construção narrativa que deixa entrever com seguimentos literários futuros de grande valia".

Hélder Teixeira Aguiar nasceu em São João da Madeira, em 1983. Filho de pai oficial do exército e escritor, e de mãe professora, licenciou-se em medicina pela Universidade Nova de Lisboa em 2008, tendo completado um mestrado no King's College de Londres. Trabalha na ULS Entre Douro e Vouga, como médico de família na USF São João e integra a equipa local de cuidados paliativos.

Diz Hélder Teixeira Aguiar que "esta dualidade entre medicina e literatura define-se em mim como uma picardia interna entre a ambição do menino que sonhava ser médico enquanto rascunhava os primeiros poemas; ou o incentivo materno à medicina em contraste com o universo cultural paterno, que disparava rock e música clássica ao adormecer e livros a nascer pelos cantos da casa. Inevitavelmente, deste confronto emergiu a síntese: a medicina não subsistiria sem a escrita, nem a escrita se aprofundaria sem o que observava e sentia in loco como clínico, um mundo em constante mudança, marcado por inapeláveis injustiças e desigualdades, repleto de personagens à espera de um escritor que lhes dê uma voz".

Em relação às suas influências literárias, Hélder Teixeira Aguiar refere: "A minha escrita é influenciada pelo realismo, sobretudo o realismo psicológico e social de Dostoievski e pelo existencialismo de Camus. Em Portugal, Eça de Queirós, Agustina Bessa-Luís e Vergílio Ferreira são referências para mim. No modernismo, destaco J.D. Salinger, cuja representação da mente jovem em À Espera no Centeio foi determinante e, claro, o incontornável José Saramago. Entre os contemporâneos, admiro Gonçalo M. Tavares pela desconstrução da linguagem (um verdadeiro "cientista literário" a quem entregaria a minha nomeação para prémio Nobel), Afonso Reis Cabral pela qualidade imagética, e também José Luís Peixoto, Hugo Gonçalves e Carla Pais".

Explica o novo escritor sobre a obra vencedora que "o romance surgiu na sequência de um trabalho de investigação. Darién é um gargalo geográfico onde confluem, todos os anos, centenas de milhares de pessoas de todo o planeta. Apoiei-me em artigos, relatórios oficiais e reportagens de referência – como a de Nadja Drost, distinguida com o Prémio Pulitzer –, mas também em vídeos nas redes sociais e em partilhas de experiências em grupos de migração. Para garantir a verossimilhança, consultei sensitivity readers venezuelanos e botânicos locais, li tudo o que encontrei sobre os Emberá – tribo que habita Darién há séculos – e estudei o seu dicionário, desenvolvido recentemente, para compreender a língua".

"Foi fundamental para mim – enfatiza o autor - que cada linha, desde a diáspora venezuelana até ao cenário migratório com as suas rotas e perigos, naturais e humanos, espelhasse a verdade. Se por um lado me inquietou expor esse lado da provação humana, uma proporção significativa vivida por jovens e crianças desacompanhados, por outro, fascinou-me o cruzamento improvável de culturas, incluindo o contacto ocasional com as populações nativas que lá resistem. O romance constrói-se através de duas vozes jovens, as quais, no meio das suas diferenças e limitações, alcançam sabedoria no meio do caos, acalentando a esperança de que todos os possam ouvir".

Com um espaço consolidado no meio literário português, o Prémio Literário Revelação Agustina Bessa-Luís distinguiu, desde o seu lançamento em 2008, os escritores Raquel Ochoa, Paulo Mourão Bugalho, Tiago Patrício, Marlene Correia Ferraz, Paula Cristina Rodrigues, Ricardo Mota, Rui Lage, Judite Canha Fernandes, Cristina Cosme, Marta Pais Oliveira, Catarina Gomes, Marco Pacheco, Francisco Mota Saraiva e, em 2024, Dulce de Souza Gonçalves.

O Júri que atribuiu o Prémio, além de Guilherme D`Oliveira Martins, que presidiu, em representação do CNC – Centro Nacional de Cultura, integrou José Manuel Mendes, pela Associação Portuguesa de Escritores, Maria Carlos Gil Loureiro, pela Direcção-Geral do Livro, Arquivos e Bibliotecas, Manuel Frias Martins, pela Associação Portuguesa dos Críticos Literários, e, ainda, por José Carlos de Vasconcelos e Ana Paula Laborinho, convidados a título individual e Dinis de Abreu, em representação da Estoril Sol.