'Lulu' sai da 'Caixa de Pandora' pela mão de Carlos Avilez e do Teatro Experimental de Cascais

11-11-2019

Uma peça que faz pensar sobre os problemas da juventude, a forma como é tratada e o que se quer dela é como Carlos Avilez define a nova produção do Teatro Experimental de Cascais (TEC).

'Lulu', do dramaturgo alemão Frank Wedekind (1864-1918) é o nome da 164.ª produção desta companhia dirigida por Carlos Avilez, que também encena a peça a estrear-se na quarta-feira, no Teatro Municipal Mirita Casimiro, no Estoril (Cascais, no distrito de Lisboa).

Uma peça "extraordinária" que o encenador disse "ter tido sempre vontade de fazer" e que "foi adiando", até agora conseguir concretizá-la "da melhor maneira possível, com um elenco extraordinário", disse à agência Lusa.

O espetáculo baseia-se na obra 'A caixa de Pandora', de 1904, que é a segunda parte do díptico 'Lulu'. A primeira parte - 'O espírito da terra' - escrevera-a o dramaturgo alemão, em 1895, tendo logo chocado o público da época pela forma "crua e direta" como abordava temas tabu, como a pedofilia, a homossexualidade, a liberdade sexual ou o sadismo.

A personagem central da peça é, pois, a que lhe dá título e que, ao mesmo tempo que é uma 'femme fatale', sem escrúpulos nem sentimentos, também é uma "espécie de visão misógina" que o dramaturgo tinha do feminino, acrescentou.

E não deixa de ser também "uma voz de revolta" contra a objetificação das mulheres, observou, a propósito da personagem central da ação. "Irreverente", uma personagem que está "contra tudo o que está estabelecido" e que é "realmente cruel e violenta", desde a infância até ao final, frisou.

A peça aborda ainda uma "juventude estranha", que provoca mortes, com Lulu a ser uma personagem "típica, estranhíssima", mas "fascinante".

"Por isso, é que ela atrai tanta gente, é que desperta tantos sentimentos, é que desperta tantas mortes", acrescentou o encenador.

Para Carlos Avilez, o fascínio da peça não está apenas na "sensualidade" da protagonista, mas porque se pode extrapolar para a "procura de coisas novas por parte de uma juventude estranha". O que permite questionar a vida atual e os problemas que atingem os jovens, indicou.

Embora esta personagem "estranha, complexa e difícil", de "transgressão absoluta", que chega a ser "absurda" e "que alude ao mito do bem e do mal", "não deixa de tocar profundamente", precisou.

"É uma jovem que é cruel e que não é cruel" e que "nos faz pensar muito sobre os problemas da juventude, a forma como a tratamos, de percebermos qual a nossa responsabilidade perante esta juventude e o que queremos dela", argumentou Carlos Avilez.

No fundo, Lulu é uma 'Lolita', indicou Carlos Avilez, numa alusão à personagem central do romance do autor russo Vladimir Nabokov, datado de 1955.

Protagonizada por Bárbara Branco, 'Lulu' - com versão e dramaturgia de Miguel Graça - tem ainda interpretação de Diogo Mesquita, Elmano Sancho, Francisco Monteiro Lopes, Isac Graça, Joana Bernardo, João de Brito, João Pecegueiro, Luiz Rizo, Miguel Loureiro, Rafael Carvalho, Rita Calçada Bastos, Rodrigo Cachucho, Ruy de Carvalho e Sérgio Silva.

Com cenografia e figurinos de Fernando Alvarez, a peça estará em cena de quarta-feira a sábado, às 21h00, e, aos domingos, às 16h00, até 15 de dezembro, exceto no dia 8 de dezembro em que não haverá espetáculo.

'Bruscamente no verão passado', de Tennessee Williams, com Manuela Couto, Bárbara Branco e Bernardo Souto, entre outros, na interpretação, será a próxima estreia do TEC, avançou à Lusa Carlos Avilez.

Depois, é a vez de o encenador regressar a 'Hamlet', o texto que considera "a Bíblia do teatro", na tradução de Sophia de Mello Breyner Andresen que em meados da década de 1970 encenou para o ACARTE - Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian.