Maternidade após tratamentos oncológicos, quais as opções disponíveis?
Outubro é o mês dedicado à prevenção e sensibilização para o cancro da mama, através da iniciativa Outubro Rosa. Sendo o tipo de cancro mais frequente entre as mulheres e uma das principais causas de morte oncológica a nível mundial, este diagnóstico traz consigo não apenas desafios físicos e emocionais, mas também dúvidas sobre o futuro reprodutivo.

Para muitas mulheres em idade fértil, a preocupação com a possibilidade de ver comprometido o sonho da maternidade surge quando recebem a notícia da doença.
A Dra. Catarina Marques, especialista em ginecologia, explica que, para além da carga emocional associada, os tratamentos oncológicos, como a quimioterapia e a radioterapia, podem ter impacto direto na reserva ovárica e acelerar a perda natural de fertilidade. Por isso, considera fundamental que as mulheres em idade fértil recebam informação clara e atempada sobre as opções que a medicina da reprodução proporciona, o que lhes permite tomar decisões conscientes sobre o seu futuro reprodutivo.
"A maternidade continua a ser um projeto possível depois do cancro. A ciência evoluiu muito nas últimas décadas e hoje conseguimos oferecer soluções concretas que permitem às mulheres preservar o seu potencial reprodutivo", explica a médica do IVI Lisboa. "É natural que, no momento do diagnóstico, a prioridade absoluta seja a sobrevivência. No entanto, é importante que a doente seja informada sobre todas as opções que tem para não fechar a porta à maternidade", sublinha.
A Dra. Catarina Marques reforça que, em muitos casos, é possível engravidar naturalmente após o cancro, e que quando tal não acontece, a medicina da reprodução oferece soluções concretas. "O fundamental é que a mulher saiba que existem caminhos possíveis, e que o acompanhamento especializado pode abrir uma janela de esperança para o futuro."
Entre as alternativas disponíveis encontram-se:
Criopreservação de ovócitos: consiste na recolha e no congelamento dos óvulos antes do início do tratamento oncológico. Esta técnica permite que a mulher tenha a possibilidade de engravidar mais tarde, utilizando os seus próprios ovócitos. Nas consultas, a maior dúvida das mulheres é se este processo pode prejudicar o tratamento oncológico. Os dados mostram-nos que não há diferenças nas taxas de sobrevivência entre as doentes que congelaram ovócitos e as que não o fizeram, frisa a Dra. Catarina Marques.
Fertilização in vitro (FIV) com ovócitos próprios: após a recuperação da doença, é possível utilizar os óvulos previamente congelados para realizar a FIV e tentar a gravidez.
FIV com ovócitos de dadora: em situações em que os ovócitos próprios não são viáveis, a doação de óvulos de uma dadora permite à mulher manter a possibilidade de engravidar.
Embriões previamente preservados: em alguns casos, embriões criados com antecedência e congelados antes do tratamento podem ser utilizados posteriormente, garantindo uma alternativa segura e eficaz.
Segundo a Dra. Catarina Marques, cada situação deve ser avaliada de forma individual, em articulação com a equipa de oncologia responsável. "A investigação científica continua a abrir novas possibilidades, o que reforça a mensagem de que a medicina reprodutiva está em constante evolução e que o futuro traz cada vez mais esperança para as mulheres que sonham com a maternidade após o cancro", remata.