Miguel Barbosa em entrevista: "Adoro a adrenalina que o desporto automóvel me transmite"

02-12-2020

Nome de referência do desporto motorizado em Portugal, Miguel Barbosa acaba de conquistar um inédito oitavo título de Campeão Nacional de Todo-o-Terreno. A estes, o piloto junta mais dois alcançados na velocidade. Em entrevista ao Regiãonline, Miguel Barbosa fala da adaptação que teve de fazer em tempos de pandemia e admite objetivos ainda mais ambiciosos.

Após a conquista do sétimo título em 2015 Miguel Barbosa fez uma pausa na sua modalidade de eleição para abraçar um projeto ambicioso na muito exigente disciplina de ralis onde por duas vezes subiu ao pódio no final da temporada.

Regressou este ano ao todo-o-terreno para, num ano atípico, confirmar todo o seu enorme potencial e sagrar-se de novo campeão. Uma carreira onde não podia faltar o Rally Dakar que, como lhe chama, são os Jogos Olímpicos do Todo-o-Terreno. Apresentado o piloto vamos fazer agora um zapping pelo seu percurso desportivo e em discurso direto.

Como tudo começou...

"Foi aos 15 anos de idade que iniciei o meu percurso automobilístico. A paixão já existia no meio familiar. O meu pai foi o grande motivador e impulsionador deste meu percurso. Foi ele quem me passou a paixão pelos automóveis. Sempre o acompanhei quando ia às corridas. Acresce que o Ernesto Neves, que foi por nove vezes campeão nacional, é meu tio, irmão da minha mãe. De facto, a paixão pelo desporto automóvel está no sangue da família. Ainda adolescente comecei a dedicar-me aos karts, que na minha opinião é a melhor escola que podemos ter ao nível do desporto motorizado. Há inclusivamente bons pilotos que ainda hoje conduzem karts. Ajuda a não perder o ritmo".

Os anos das vitórias...

"Creio que o primeiro título foi conquistado em 2003 e o último tinha sido em 2015. Em paralelo com o TT fui em 2011 campeão de Portugal de GT e em 2014 de Velocidade. Passámos quatro anos pelos Ralis e regressei este ano ao TT, aos comandos de uma Toyota Hilux. O objetivo era lutar pelo oitavo título. Foi o que fizemos e conseguimos".

O calendário que a pandemia adiou

"De regresso ao TT a aposta era alcançar o oitavo título. Começamos na Baja TT ACP e logo com uma vitória. Poucos dias depois entrámos em confinamento total. Não estávamos à espera do sucedido, ninguém estava, foi uma surpresa para todos. O que mais custou foi a ansiedade de quando iriamos recomeçar. Tivemos de nos readaptar e aguardar por novas decisões".

Fazer o trabalho bem feito

"Adoro a adrenalina que o desporto automóvel me transmite. Todos estes resultados são fruto de muito trabalho, a envolver uma grande equipa, focada em fazer mais e melhor, a cada prova, a cada dia, a cada ano e eu penso que se for este o caminho, os resultados aparecem naturalmente. Preocupo-me, acima de tudo, em fazer o meu trabalho bem feito".

A preferência pela terra

"Conduzir em piso de terra é o que mais gosto. Já disputei provas em circuitos, mas é no todo-o-terreno que me sinto mais à vontade, é muito mais desafiante. A diversidade de pisos fascina-me. A possibilidade de numa mesma prova poder desfrutar de experiências de condução tão distintas como areia, lama e terra é algo que me atrai bastante".

A paixão dos portugueses

Os portugueses são apaixonados pelo desporto automóvel. Os patrocinadores sabem disso, sentem essa realidade e projetam-se nela. O desporto automóvel cria empatia e emoção, tem um fator exponencial muito grande, o que acaba por fazer dele uma ferramenta de marketing muito interessante para os patrocinadores poderem divulgar as suas marcas. Mas não é fácil, muitas vezes, conseguir-se esses apoios e o desporto automóvel é caro".

Próximos voos

Fiz três incursões pelo Dakar, a última das quais em 2010. Dois anos em África, o emblemático Dakar a terminar no Lac Rose e outro na América do Sul. Cruzei paisagens lindíssimas que em situações normais não me seria possível. A vertente competitiva é do mais exigente que há, mas há também uma componente de superação humana imensa. É das provas que mais me atrai, é muito especial. Agora com o oitavo título, procuramos algo diferente. Eventualmente para voos mais altos".