Museu do Tesouro Real é a nova joia de Lisboa

31-05-2022

É no Museu do Tesouro Real, inaugurado na ala poente do Palácio Nacional da Ajuda, que as joias da Coroa e as peças da ourivesaria real portuguesa passam a estar expostas, pela primeira vez em morada própria e permanente. O novo equipamento cultural da capital portuguesa tem como desígnio projetar Lisboa como um destino cada vez mais atrativo para residentes e visitantes de todas as partes do mundo.

Resultado da bem-sucedida relação entre a Cultura e o Turismo, o Museu do Tesouro Real irá expor uma coleção com mais de mil peças, que em muito enriquece a qualidade e diversidade da oferta cultural de Lisboa do eixo Belém e Ajuda.

O acervo único de valor patrimonial inestimável exposto no Museu do Tesouro Real é constituído por raras e valiosas joias, insígnias e condecorações, moedas e peças de ourivesaria civil e religiosa, como é exemplo a coroa, a laça de esmeraldas de D. Mariana, aquela que se pensa ser a segunda maior pepita de ouro do mundo ou a caixa de tabaco encomendada por D. José ao ourives do Rei de França, no séc. XVIII, e que a amante de Luís XV não queria deixar sair de Paris.

Estes símbolos de poder e objetos pessoais de luxo representam uma das mais importantes coleções mundiais, pela sua dimensão, raridade e qualidade e contam a história de Portugal vivida a partir do Palácio Nacional da Ajuda, a casa dos últimos reis de Portugal. O espólio do Museu do Tesouro Real está instalado numa das maiores caixas-fortes do mundo (40 metros comprimento, 10 metros de largura e 10 metros de altura), com três pisos, munida com sofisticados equipamentos de segurança e videovigilância, portas blindadas de 5 toneladas, vitrines com controlo de temperatura e humidade e vidros à prova de bala.

A totalidade do projeto (que incluiu a obra de remate da ala poente do Palácio Nacional da Ajuda que esteve inacabada durante 226 anos, bem como a requalificação do espaço público na Calçada da Ajuda) tem um valor de investimento de 31 milhões de euros, maioritariamente viabilizado pelo Fundo de Desenvolvimento Turístico de Lisboa (18 milhões de euros). O Ministério da Cultura/DGPC investiu quatro milhões e 800 mil euros e a Associação Turismo de Lisboa investiu nove milhões de euros.

O projeto museológico foi da responsabilidade da Direção Geral do Património Cultural (arquiteto João Carlos Santos) e do Palácio Nacional da Ajuda, tendo sido o layout de museografia concebido pela "Providência Design". A execução do projeto, incluindo a obra no Palácio, foi da responsabilidade da Associação Turismo de Lisboa, por incumbência da Câmara Municipal de Lisboa, com o acompanhamento da Direção Geral do Património Cultural. A gestão científica do Museu é da responsabilidade do Palácio da Ajuda e a gestão operacional e turística fica a cargo da Associação Turismo de Lisboa.

Com o empenho de todas as partes envolvidas, o Museu do Tesouro Real realça o valor artístico e simbólico das peças, explicando o seu papel ao serviço da monarquia, nas funções cerimoniais de representação do poder régio, na devoção real, na atividade diplomática ou no colecionismo oitocentista.

UMA EXPOSIÇÃO COM ONZE NÚCLEOS, INTEGRADOS EM TRÊS PISOS DA CAIXA FORTE

A exposição permanente do Museu do Tesouro Real foi pensada em 11 núcleos, numa abordagem aprofundada sobre a origem e percurso das peças que os compõem.

O primeiro núcleo da exposição é denominado Ouro e diamantes do Brasil onde é apresentada uma amostra de exemplares em bruto dos metais e das gemas que simbolizam dois importantes monopólios da Coroa: a extração de ouro e de diamantes no Brasil.

Os Portugueses, desde a sua chegada ao Brasil, em 1500, procuraram ouro e pedras preciosas, mas só passados quase dois séculos, no final de 1600, é que descobriram as possantes jazidas de ouro na região posteriormente apelidada de Minas Gerais. A corrida ao ouro trouxe inúmeros exploradores e aventureiros à região que, olhando para o chão, não tardaram a encontrar os almejados diamantes em enorme e inédita quantidade, no primeiro quartel do século XVIII. É esta descoberta que explica a mudança de paradigma na joalharia, que passa a ser definida não pelos metais preciosos, mas sim pelas pedrarias, conferindo aos cravadores um protagonismo singular.

No segundo núcleo, está exposta a parte selecionada do conjunto de moedas e medalhas da Coroa, amplamente usadas pelas casas reais como instrumentos e suportes de propaganda, prestígio e poder.

À nobreza da prata e, sobretudo, do ouro se associavam o nome, os símbolos e as imagens dos reis e dos seus feitos. Por essa razão, a inclusão destes objetos preciosos nos tesouros reais era prática comum. As peças reunidas neste núcleo são disso testemunho. Dotes régios, dádivas pessoais, heranças, ofertas diplomáticas ou simples atos de coleção e memória, todos confluíram para a criação de um espólio numismático outrora mais vasto, mas ainda hoje altamente significativo, com peças de grande beleza e raridade.

No terceiro núcleo são apresentadas as Joias que compõem o acervo do Palácio Nacional da Ajuda, provenientes da joalharia antiga pertença da Coroa, ou seja, do Estado e as joias provenientes das antigas coleções particulares de diferentes membros da família real portuguesa, entre os séculos XVII e XX.

O quarto núcleo é dedicado às Ordens Honoríficas e reúne um conjunto ímpar a nível nacional, testemunho secular das intensas relações internacionais da corte portuguesa e da importância histórica destes instrumentos de soberania e diplomacia.

As ordens honoríficas têm a sua origem mais remota na Idade Média, nas ordens cristãs de monges cavaleiros, que eram milícias extraterritoriais e encabeçadas por um mestre; progressivamente foram perdendo autonomia e independência em favor das coroas, como sucedeu em Portugal. Igualmente as ordens de cavalaria, que ajudaram a consolidar alianças na Europa, e as mais tardias ordens de mérito, estão na génese das ordens honoríficas contemporâneas.

Todas estas foram sendo esvaziadas da sua missão inicial e adquirindo um carácter honorífico a partir do final do Antigo Regime, acabando por transformar-se em ordens meramente premiais. Desde então, todas ganharam destaque com o desenvolvimento das relações diplomáticas internacionais e consolidaram-se como uma ferramenta imprescindível para reconhecer méritos e serviços a cidadãos nacionais e estrangeiros.

O quinto núcleo apresenta as Insígnias Régias: Objetos Rituais da Monarquia. Este núcleo integra as insígnias de poder dos reis de Portugal e aqui são exibidas algumas das mais simbólicas e valiosas joias da Coroa, como as condecorações ricas das Três Ordens Militares - Cristo, Avis e Santiago -, a coroa real, os cetros, e os dois mantos subsistentes.

Tais objetos desempenhavam um papel crucial na cerimónia de advento de cada novo monarca, que em Portugal era designada por aclamação ou levantamento, uma vez que os reis não eram coroados, nem sagrados ou ungidos.

As insígnias portuguesas adequavam-se ao que era usual nas demais monarquias europeias, com um conjunto central de objetos simbólicos como coroa, ceptro, manto, estoque, completado por outros objetos ligados diretamente a determinadas partes do ritual, como estandarte, trono, missal, crucifixo, almofada, escrivaninha.

Especificamente portuguesas eram as ordens honoríficas ostentadas em semelhantes ocasiões: às ordens religiosas militares medievais (Cristo, Santiago, Avis) juntavam-se as modernas de Nossa Senhora da Conceição e da Torre e Espada.

O sexto núcleo é dedicado aos objetos de uso civil em prata lavrada de diferentes centros de produção, com destaque para um conjunto muito expressivo, a Prata de Aparato da Coroa com salvas e pratas portugueses quinhentistas.

Objetos de uso civil em prata dourada e ricamente trabalhada, constituíam verdadeiros tesouros, materiais e artísticos. Serviam, por isso, à representação e ao aparato.

Do Tesouro recomposto após o Terramoto de 1755, destaca-se o excecional conjunto de 23 obras reservadas para os maiores atos públicos da Coroa, como os Batismos reais, a Aclamação, ou a cerimónia régia do Lava-pés aos Pobres, de Quinta Feira Santa.

Em exposição e serviço cerimonial, aos olhos de todos estas obras refletiam a solenidade do ato, bem como das insígnias régias que sobre elas se apresentavam, dos gestos e precedências de quem as transportava, dos espaços que adornavam.

Segue-se o sétimo núcleo que remete para as antigas Coleções Particulares do rei D. Fernando II e do seu filho, D. Luís I, com outras reputadas peças de prata de uso civil.

Figura central do colecionismo de arte em Portugal no século XIX, D. Fernando II (1816-1885) teve na ourivesaria uma das suas áreas de eleição, interesse partilhado com o filho, D. Luís I (1838-1889).

Através de aquisições efetuadas em Portugal e no estrangeiro, mas também de ofertas, reuniram importantes peças que desde cedo atraíram a atenção de estudiosos, tendo sido cedidas para exposições.

Ambas as coleções foram diminuídas na sequência de partilhas efetuadas entre a família real e, após a implantação da República, em 1910, com a dispersão por outros palácios e museus, apresentando-se neste núcleo uma pequena parte.

O oitavo núcleo é dedicado às Ofertas Diplomáticas decorrentes da diplomacia ao longo dos séculos.

A diplomacia teve ao longo dos tempos um papel determinante nas relações entre Estados, bem como entre Entidades. À semelhança dos tratados e acordos, os presentes diplomáticos constituem-se como parte e expressão destas relações, com a respetiva carga de significados e simbolismo.

Marcantes para a história da Diplomacia portuguesa foram as relações de D. João V com a Santa Sé que resultaram, nomeadamente, na elevação da Capela Real à dignidade de Igreja Patriarcal em 1716 e, em 1748, à concessão por Bento XIV do título de "Fidelíssimo" ao soberano, afirmando a paridade diplomática dos Reis de Portugal face aos monarcas espanhóis (Católicos), franceses (Cristianíssimos) e imperadores austríacos (Apostólicos).

Os cerimoniais religiosos são evocados no nono núcleo dedicado à Capela Real, com uma seleção de alfaias litúrgicas e paramentos, dos muitos que antigamente integraram o património da Coroa.

As capelas reais foram, ao longo dos séculos, cenário de grandes cerimónias nas quais se exaltavam a devoção católica e o poder real, assinalando as datas do calendário litúrgico, bem como as comemorações associadas às pessoas reais, fazendo uso de preciosas alfaias litúrgicas.

Para o espetáculo da Corte concorriam igualmente os músicos da Câmara Real e toda uma cenografia assegurada por vários artistas, que redesenhavam os espaços com sumptuosas armações em seda e ouro onde reluziam, à luz das velas, as pedrarias e metais preciosos das alfaias.

Os inventários das Reais Capelas, dão testemunho de um extenso conjunto de paramentos e ourivesaria. O espólio conservado nesta coleção representa uma ínfima parcela do antigo Tesouro da Coroa.

O décimo núcleo é dedicado à Baixela Germain, assim designada por ter sido encomendada ao ourives François-Thomas Germain, após o terramoto de 1755. Conjunto de referência da ourivesaria francesa de setecentos a nível internacional pela qualidade e raridade.

Concebida para servir "à francesa" como era uso nas cortes europeias de então, deveria compor sobre o "palco" da mesa, planificados e simétricos, os sucessivos conjuntos de magníficas obras de ourivesaria nas quais eram apresentadas as múltiplas iguarias: as Cobertas.

Sob a atuação coordenada de dezenas de criados "peritos em pôr e tirar Cobertas", estas sucediam-se nos quatro tempos de um banquete, determinadas por uma estrita ordem de consumo dos alimentos: primeiro os "cozidos", depois os "assados", os "entremezes" e, por fim, o "doce".

O último núcleo, Viagens do Tesouro Real, pretende dar a conhecer a mobilidade do tesouro que estava em regra junto ao rei e que o acompanhava na sua glória e nos atos solenes, mas também nas suas vicissitudes, as do Reino e da sua história. Reserva de singulares objetos de Estado, joias, têxteis, sumptuosas baixelas foi, também, um recurso de riqueza e matéria preciosa.

Os cofres do Tesouro embarcaram, por isso, numa inédita e arriscada travessia do oceano, que levou a Família Real e a Corte rumo ao Brasil, quando, em 1807, se deram as Invasões francesas.

Em 1821 regressou o rei e com ele o Tesouro, quase integral. Os bens que ficaram no Brasil para serviço da regência, dez anos depois acompanharam novos enredos políticos, embarcando para Londres. Para algumas peças começou a dispersão sem retorno, para outras, foi o início do reencontro com Lisboa e o Tesouro.

INFORMAÇÕES ÚTEIS

Horário

Verão: Todos os dias, das 10h às 19h

Inverno: Todos os dias, das 10h às 18h

Bilhetes

Jovens (7 aos 24 anos) e Seniores (maiores de 65 anos): €7

Adulto (25 aos 64 anos): €10

Crianças (0 aos 6 anos) e portadores do Lisboa Card: Gratuito

Escolas: €2

Família (2 adultos e 2 jovens): €32

Parceiros/Grupos: €8

Localização: Palácio Nacional da Ajuda, Largo da Ajuda, 1349-021 Lisboa

Autocarros: Carris: 729, 732, 742

Elétrico: 18

City Tours: Hop on Hop off; Cityrama; Carristur