“O Processo” é o romance vencedor do Prémio Literário Revelação Agustina-Bessa Luís
Com o romance "O Processo", Dulce de Souza Gonçalves venceu o Prémio Literário Revelação Agustina Bessa-Luís 2024, no valor pecuniário de 10 mil euros, garantindo a sua publicação através da Editorial Gradiva, com a qual a Estoril Sol mantém uma parceria desde 2008, ano do lançamento do concurso, em homenagem à grande escritora.
Sobre "O Processo", o júri, ao qual presidiu Guilherme D`Oliveira Martins, considerou tratar-se de "um romance centrado na memória histórica dos últimos anos da resistência à ditadura portuguesa e, ao mesmo tempo, de projeção dos traços culturais que asseguraram algumas das suas referências emblemáticas, nomeadamente as relacionadas com o fenómeno da emigração portuguesa para França, sobretudo durante os anos sessenta. Nesse quadro irá evoluir a descrição de momentos (culturais e políticos) particularmente relevantes da comunidade lusa como, por exemplo, o fenómeno do Maio 68 em França, com as suas rebeldias poéticas e insubmissões criativas, e o da Capela do Rato em Portugal em dezembro de 1972".
De acordo ainda com a acta, a obra premiada "é um romance que apresenta uma assinalável segurança estilística e mesmo uma grande frescura literária no que diz respeito ao imaginário do Portugal contemporâneo, com os seus defeitos e as suas virtudes".
Nascida em Lisboa, em 1973, Dulce de Souza Gonçalves é doutorada em Psicologia da Educação, fez o Mestrado em Literatura e Cultura Portuguesa e a Licenciatura em Estudos Portugueses, tendo frequentado o Instituto de Odivelas na adolescência.
É fundadora e mentora da Associação sem fins lucrativos Mentes Sorridentes e professora do Ensino Básico e Secundário há 29 anos. "O meu grande sonho é que um dia tenhamos o mundo repleto de palavras mais felizes. Por isso, vou semeando, como professora e como escritora, nas escolas e nos lugares por onde passo, ideias coloridas que, às vezes, acompanhadas, até fazem o pino", refere.
Foi finalista do Global Teacher Prize, em 2018, e ganhou o Global Teacher Award em 2021. Recebeu o Prémio Almirante Teixeira da Mota, em 2000, e é autora de algumas obras no âmbito da literatura infanto-juvenil.
A obra premiada é um romance inspirado numa história verídica, carregada de emoções e significados históricos, que explora a ligação íntima e profunda entre uma sobrinha e o seu tio, um ex-preso político.
Situada entre Portugal, França e Brasil, aborda a ligação intrincada de um tempo presente com o contexto turbulento do regime ditatorial antes da Revolução de 25 de abril de 1974. A narrativa, baseada em factos documentados, é um mergulho nesse passado de resistência, coragem e amor.
A história acompanha a jornada de uma sobrinha, movida por um pedido inesperado e o desejo de compreender as raízes da sua própria liberdade. Ao consultar o processo político do tio nos arquivos da Torre do Tombo, depara-se com pormenores inusitados da sua prisão e da sua relação com uma jovem francesa, cúmplice no amor e na resistência. A busca leva-a a encontrar a antiga namorada do tio, que, apesar de distante, partilha as marcas emocionais e históricas desse tempo.
O Júri que atribuiu o Prémio, além de Guilherme D`Oliveira Martins, que presidiu, em representação do CNC – Centro Nacional de Cultura, integrou José Manuel Mendes, pela Associação Portuguesa de Escritores, Maria Carlos Gil Loureiro, pela Direcção-Geral do Livro, Arquivos e Bibliotecas, Manuel Frias Martins, pela Associação Portuguesa dos Críticos Literários, e, ainda, por José Carlos de Vasconcelos, Liberto Cruz e Ana Paula Laborinho, convidados a título individual e Dinis de Abreu, em representação da Estoril Sol.