Odeith inaugura na Amadora a sua primeira exposição fora das ruas

31-10-2019

O artista português Odeith, que tem na técnica 3D uma das características mais marcantes do seu trabalho, inaugura na Amadora, a primeira exposição a solo, após mais de duas décadas a pintar nas ruas.

Em "Escala 10:1", patente na Galeria Municipal Artur Bual, Odeith apresenta quadros, a maioria pintados a acrílico e óleo, os mais antigos com mais de uma década, dos tempos em que ainda era tatuador, e outros criados propositadamente para a exposição.

Odeith, que começou por pintar na rua e em linhas de comboios, lembra que sempre teve "a paixão por pintura". Em 2004, numa altura em que "já pintava bastante nas ruas", pintou em casa alguns quadros. "Mas quando tentas transformar uma assoalhada de tua casa num atelier, acaba por se tornar um bocadinho sufocante, apertado e desmotivante saíres de uma sala e entrares num quarto para pintar", contou à Lusa numa visita à exposição.

Há cerca de um ano, quando comprou um estúdio, voltou a dedicar-se aos quadros, sem nunca 'descurar' as ruas.

Nos seus trabalhos, Odeith tenta "muitas vezes transformar a dimensão das coisas": seja exagerar no tamanho de uma abelha ou diminuir algo que é grande para um ponto pequeno em relação ao ser humano".

Daí o nome da exposição "Escala 10:1", a de "ampliação de algo". "A maior parte dos quadros têm algo que é pequeno e está gigante em relação ao homem ou vice-versa", descreveu.

A mostra inclui também um quadro pintado a 'spray' e dois cantos "de ilusão ótica", técnica que tem vindo a desenvolver ao longo dos anos e que o tem levado aos quatro cantos do mundo.

Esses trabalhos, que tantos 'likes', comentários e 'tags' lhe valem na rede social Instagram, "não têm propriamente um truque".

"Isto tem tudo que ver com ângulos, luz e sombras. Se tentares criar uma pintura de ilusão ótica em que algo está errado - a perspetiva, o ângulo ou a luz, as sombras - se calhar acaba por não dar o efeito", referiu.

Odeith quase sempre usou no seu trabalho a técnica 3D (três dimensões), "mas não era anamórfico, anamórfico é algo que está distorcido, pode estar muito ou um bocadinho, mas tem um determinado ângulo para ser visto para criar o efeito de ilusão ótica".

Com o passar dos anos, a visão do artista "já está um bocado apurada", algo que "acaba por dar ainda mais realismo ao trabalho".

Natural da freguesia da Damaia, na Amadora, Odeith começou a pintar na rua e em linhas de comboios, trabalhou mais de uma década em tatuagens e deixou murais nos bairros da Cova da Moura, 6 de Maio e Santa Filomena, enquanto desenvolvia a técnica 3D.

"O início foi muito importante, principalmente os muros que tinha na Damaia, era uma fronteira entre um bairro social e a Damaia, prédios, urbanização, e acho que isso foi uma porta aberta para uma inspiração. Às vezes penso que se tivesse nascido noutro sítio ou o mural tivesse sido noutro sítio, eu não tinha sido tão criativo ou não tinha insistido, tanto pintava no bairro social ou um memorial de alguém que falecia e no lado da urbanização ou num trabalho decorativo", recordou.

Hoje consegue viver da arte, mas nunca pensou que pudesse viver de pintar. "Quando tatuei, durante 12 anos, foi uma porta aberta que me permitiu estar ligado à arte a tempo inteiro. A parte dos murais nunca pensei que me levasse a dar voltas ao mundo, como tenho feito nos últimos anos", disse.

O convite para expor na Galeria Municipal Artur Bual partiu da Câmara Municipal da Amadora, com quem o artista tem colaborado ao longo dos últimos anos.

Dessa colaboração resultaram, por exemplo, murais em homenagem a Amália Rodrigues, Zeca Afonso, Carlos Paredes, Fernando Pessoa e Vasco Santana, em empenas de prédios da cidade.