Pandemia reduziu número de acidentes na estrada, mas em junho registaram-se mais mortes
O número de acidentes com vítimas mortais baixou no primeiro semestre de 2020 face ao período homólogo, mas o pós-pandemia de covid-19 revela que os acidentes se estão a tornar mais mortais, uma tendência preocupante, defendem as autoridades.
Segundo os dados do relatório da sinistralidade rodoviária referente ao primeiro semestre de 2020, todos os indicadores de sinistralidade registaram uma redução face ao período homólogo de 2019.
Os números oficiais registam 11.501 acidentes com vítimas no primeiro semestre de 2020, menos 5.167 (-31%) do que em 2019; um total de 167 vítimas mortais, que representam menos 59 do que as 226 no primeiro semestre de 2019 (-26,1%); um decréscimo nos feridos graves, com os 779 casos de 2020 a representarem menos 269 registos do que 1.048 de 2019 (-25,7%); e cerca de menos um terço de feridos leves, com 13.352 casos em 2020, que representam menos 6.734 feridos leves do que os 20.086 registados em 2019 (-33,5%).
A pandemia e os estados de emergência e calamidade explicam, em grande parte, e de forma esperada, a redução global no semestre, afirmaram hoje em conferência de imprensa o presidente da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR), Rui Ribeiro, e os representantes da Polícia de Segurança Pública (PSP), intendente Nuno Carocha, e da Guarda Nacional Republicana (GNR), major José Beleza, que se mostraram sobretudo preocupados com os dados relativos ao pós-pandemia.
Se os primeiros meses do ano, janeiro e fevereiro, mostravam uma tendência de decréscimo nos indicadores de sinistralidade, e que se acentuou durante o período de confinamento devido a uma quebra drástica na circulação rodoviária, essa tendência começou a inverter-se no que diz respeito ao índice de gravidade dos acidentes com vítimas, com menos acidentes, mas mais vítimas mortais.
A tendência revelou-se mais preocupante a partir de junho, sendo que os dados preliminares de julho, o primeiro mês do segundo semestre, apontam para um agravamento ainda maior, adiantou Rui Ribeiro, admitindo preocupação.
"Este é o problema que nós estamos a enfrentar hoje. O início do ano começou com uma tendência em melhoria do que se passou no ano de 2019. Com a crise pandémica, naturalmente, havendo menos veículos a circular, todos os indicadores de sinistralidade diminuíram de intensidade e com a retoma no mês de junho, e já no mês de maio, passámos a ter menos acidentes com vítimas, menos feridos leves, menos feridos graves, mas comparativamente a 2019 passámos a ter um número crescente de vítimas mortais", disse o presidente da ANSR.
"Os acidentes têm um índice de gravidade maior, ou seja, o número de acidentes com vítimas mortais por número de acidentes com vítimas é maior e isso é uma coisa que nos preocupa e essa é a mensagem que queríamos deixar para todos os condutores. Neste verão as coisas estão a mudar novamente e o índice de gravidade e sobretudo o número de acidentes com vítimas graves, das quais resultam vítimas mortais, está a aumentar", acrescentou, apontando o excesso de velocidade, os despistes e o peso crescente das distrações e infrações por uso do telemóvel ao volante como explicações.
Os menos cerca de 800 acidentes com vítimas registados em junho face a 2019 traduziram-se em 36 vítimas mortais, mais quatro do que as 32 registadas em 2019.
Pelo lado da PSP, o intendente Nuno Carocha revelou preocupação com a retoma de atividade esperada para setembro, sobretudo no que isso implica para a taxa de ocupação da rodovia e, potencialmente, para a sinistralidade.
"A taxa de ocupação da via rodoviária tem aumentado de forma gradual, mas a frequência dos acidentes está a aumentar a uma taxa superior. Isso deixa-nos preocupados porque em setembro, com o retomar da normalidade da vida económica, da vida académica, com o retomar das aulas presenciais, da dinâmica das famílias mais próxima do que é o nosso normal em termos de sociedade portuguesa vamos ter uma maior ocupação da rodovia e a manter-se este crescendo poderemos ter aqui um agravamento que queremos de todo garantir que não aconteça", disse.
A PSP apontou ainda que a idade média dos condutores envolvidos em acidentes é de 42 anos, uma idade relativamente baixa e bastante coberta pelas campanhas de prevenção da ANSR nas duas últimas décadas com o objetivo de mudar comportamentos ao volante.
Questionado sobre esse facto, o presidente da ANSR disse que as campanhas "só por si não resolvem a sinistralidade rodoviária".