Sintra: Teatromosca cria emissões de emergência para apresentar as suas peças ao público

20-04-2020

O Teatromosca cria QuarentenAntena, um ciclo de Emissões de Emergência online de espetáculos criados pelo teatromosca durante o período de quarentena em Portugal e disponibilização de outros espetáculos que integram o historial da companhia.

Este programa, que inclui espetáculos distintos para o público familiar e público geral, iniciou com os registos em vídeo dos espetáculos que integram o reportório da companhia, começando com a "trilogia dos seus trabalhos", criada a partir de textos de John Berger. Estes vídeos podem ser vistos na página da QuarentenAntena no website do teatromosca e no canal da companhia no Vimeo. Mais recentemente, iniciaram-se as transmissões de espetáculos em direto, com a emissão em live streaming de "ALICE", inspirado nos livros de Lewis Carroll, para crianças a partir dos 6 meses de idade. 

O acesso aos vídeos do arquivo da companhia e do espetáculo "ALICE" é livre. Ainda em abril, a companhia estreará uma nova criação para o público infantil a partir do livro "Romance do 25 de Abril", de João Pedro Mésseder e Alex Gozblau, transmitida em direto na internet.

Entretanto, a companhia começou já a preparar 4 novas criações para o público geral, a partir de textos curtos de dramaturgos portugueses contemporâneos. Serão dois fins de semana. Quatro diferentes espetáculos ao todo. 

Nos dias 2 e 3 de maio, pelas 21h, "Coro dos Amantes" de Tiago Rodrigues, criado e interpretado por Pedro Alves e Mariana Fonseca, seguido de "Mulher sem Memória", de Patrícia Portela, interpretado por Carolina Figueiredo, encenado por Giulia Fabbretti e Sofia Pereira. Dias 23 e 24 de maio, às 21h, estreará "A Culpa Não Foi Minha", de Jaime Rocha, monólogo interpretado pela atriz Mariana Fonseca, dirigido por Pedro Alves, e "Colapso", de Cláudia Lucas Chéu, criado e interpretado por Carolina Figueiredo e Pedro Alves. 

A atualidade, pertinência e urgência das questões e reflexões enunciadas em cada um dos textos escolhidos, a plasticidade entre a performance, os dispositivos de emissão e o corpo dos atores proporciona-nos uma reflexão sobre a importância do tempo, a memórias, os lugares e não-lugares, o(s) contexto(s) sociais, o poder, ao mesmo tempo que se desafiam, propositadamente, as fronteiras entre o Cinema e o Teatro.

O acesso a estas novas Emissões de Emergência, dirigidas a maiores de 12 anos, deverá ser feito através de reserva através do email geral@teatromosca.com, com um pagamento mínimo de 1 € efetuado via MBWay para o nº associado 96 340 32 55 - número que poderá também ser utilizado para solicitação de informações e pedidos de reserva.

Ler e dizer o teatro em família

Para além das estreias enunciadas, integradas nestas Emissões de Emergência da QuarentenAntena, o teatromosca implementa pela primeira vez em Portugal o projeto "Ler e Dizer o Teatro em Família(s)", um dispositivo desenvolvido pela associação Les Scènes Appartagées a partir de uma ideia de La Lisière e do festival Petits et Grands. Jorge Palinhos, jovem dramaturgo português, investigador e doutor em Estudos Culturais, é o primeiro artista convidado pelo teatromosca para participar no projeto. 

No passado dia 13 de abril, este autor, juntamente com uma pequena equipa do teatromosca composta pela atriz e encenadora Mariana Fonseca e a investigadora Giulia Fabbretti, deram início à implementação deste projeto no Concelho de Sintra, com uma primeira reunião com a família Valentim, em ambiente bastante descontraído e informal usando as ferramentas digitais ao dispor. 

Os pais, Paulo e Helena, professores de filosofia e de linguística, respetivamente, e os filhos, David, estudante de 14 anos, e, Heitor, estudante de Arte Multimédia, em Belas Artes, selecionaram o texto "No Papel da Vítima", dos Irmãos Presniakov, para ser lido e debatido durante seis sessões de trabalho que culminaram numa leitura privada, em contexto familiar, no passado dia 19 de abril, através da aplicação Zoom. O objetivo deste projeto é (re)aproximar as obras literárias dramáticas (e o Teatro) do público e, para tal, foram, inicialmente, apresentadas sete obras diferentes, de autores portugueses e estrangeiros, para que a família pudesse decidir qual o texto que melhor corresponderia aos seus interesses e preocupações.

Apesar de a apresentação não acontecer num contexto aberto ao público, este projeto, pioneiro em Portugal e implementado agora na cidade de Agualva-Cacém, deverá ser executado pelo teatromosca, ao longo dos próximos anos, na casa de diversas famílias, reforçando laços e relações entre artistas e públicos.

Mesmo tendo visto uma parte muito significa da nossa vida estagnada com a pandemia que nos assolou e que levou, imediatamente, ao encerramento do espaço que este coletivo sintrense gere, levando à suspensão da programação do AMAS - Auditório Municipal António Silva, o teatromosca procura manter viva a relação com os públicos, estreitando a sua ligação a diferentes comunidades. 

Nesse sentido, reinventam-se formas de dar continuidade ao trabalho com o grupo de Teatro Sénior de Agualva e Mira Sintra, em parceria com a Junta de Freguesia, e o Teatro Duas Senas, projeto desenvolvido com o CECD Mira Sintra. Ao mesmo tempo, deu início a um ambicioso projeto com um grupo de alunos da Escola Secundária Gama Barros que será acompanhado ao longo dos três anos do ensino secundário, prevendo-se ainda a realização de intercâmbios com outros jovens pertencentes a escolas da Rede de Escolas Magalhânicas. Efetivamente, "PARA X" inspira-se na viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães para desafiar fronteiras físicas, ideológicas, políticas, para destruir barreiras entre a Arte e a Educação.

Como afirma Pedro Alves, diretor artístico do teatromosca, "não podemos parar, apesar de estarmos a viver um momento incrivelmente duro nas nossas vidas, apesar de estarmos perante uma tragédia sem precedentes no nosso tempo. Temos de ser criativos, temos de nos reinventar. Alguém escrevia no outro dia que, agora, mais do que nunca, parece ser crucial impedir este vírus de diminuir a nossa produção de arte. Mas, na verdade, o que nos parece urgente é que possamos estar juntos, de algum modo, que possamos continuar a criar comunidades. Esta é a forma que encontrámos para vos desafiar a vir ao nosso encontro, para que nos recebam também nas vossas casas, que possam visitar as nossas, para que possamos estar próximos, mesmo que não possamos habitar, momentaneamente, o mesmo espaço. O desafio que vos lançamos é: Vamos ao teatro a partir de casa?"